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Como tudo começou
Em 2019, ao iniciar sua especialização em Planejamento Urbano no Rio de Janeiro - RJ, o geógrafo Igor Vecchia fixou residência na região central, especificamente no Bairro de Fátima. Ao vivenciar a paisagem do centro carioca, ele começou a notar a presença crescente de entregadores que percorriam as ruas da cidade, uma visão que despertou curiosidade.
“Esse primeiro olhar me despertou interesse, então iniciei uma imersão no universo dos entregadores. Entrei em grupos de WhatsApp através de links que encontrei nas redes sociais para tentar compreender as dinâmicas de trabalho e as demandas que surgiam a partir de seus próprios meios de comunicação”, relembra Igor.
Ao longo de vários meses e um trabalho de escuta atenta foram sistematizadas mensagens. A produção dos dados e a troca com os trabalhadores abriram a possibilidade de formular uma ferramenta específica para os entregadores, algo que pudesse apoiar na compreensão das condições de trabalho e que fosse construído de forma colaborativa.
"Naquela época, existiam poucas pesquisas ou dados sobre a realidade específica dos entregadores de plataformas digitais. Havia muita produção sobre os motoristas de plataformas, como os da Uber. Já sobre os entregadores, era um campo quase desconhecido, que só ganhou destaque em meio à pandemia. Existia um estudo feito pela Aliança Bike focado nos ciclistas. Foi desafiador iniciar esse movimento, ao passo que também parecia necessário", conta Igor.
Durante esse período, o designer Cristiano Dalbem também residia na capital carioca. Formado em Ciência da Computação, Cristiano e Igor possuem uma amizade de longa data. Juntos, compartilhando experiências profissionais e reflexões sobre suas demandas de trabalho, eles discutiam as potencialidades de usos mais democrático da tecnologia pelas pessoas. Cristiano, por ser da área de tecnologia, já tinha participado da construção de um aplicativo colaborativo.
“Em 2015 desenvolvi um aplicativo chamado Bike de Boa, que segue disponível até hoje, e tinha como objetivo mapear bicicletários seguros para estacionar. Quando encontrei o Igor e conversamos sobre os entregadores” comenta Cristiano.
A inquietação do geógrafo Igor somada às ideias do designer Cristiano resultaram em um projeto de tecnologia que visa cruzar informações e apoiar a organização dos entregadores. Assim nasceu o Meu Corre, aplicativo de gestão financeira criado exclusivamente para os trabalhadores desta categoria.
o projeto
A imersão no universo dos entregadores revelou diversas demandas de acesso à informação. Foi fundamental escutar os trabalhadores e perceber suas reais necessidades. O sistema informal de trabalho produz instabilidade e aumento da exploração e insegurança, de modo que os entregadores precisam estabelecer redes de informações, para atuarem de forma organizada e colaborativa, trocando dicas e conteúdos todos os dias, na tentativa de superar as adversas condições de trabalho.
Acessar e compreender esse panorama só foi possível com a participação e feedback dos trabalhadores, que estiveram presentes em todas as etapas do projeto, inclusive no teste de protótipos. O aplicativo Meu Corre resultou de um projeto horizontal e coletivo que chega para contribuir na gestão financeira dos entregadores.
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Esses trabalhadores estiveram envolvidos em diversas atividades essenciais para o desenvolvimento da ferramenta, incluindo entrevistas individuais, testes de usabilidade do protótipo, participação em grupos focais de pesquisa e avaliação das primeiras versões do aplicativo.
